Festa do Socol: culinária, voluntariado e filantropia
Evento que surgiu para reverenciar uma iguaria típica da culinária das famílias de imigrantes italianos
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A comunidade de Alto Bananeiras, em Venda Nova, se prepara para receber um grande público para a 23ª Festa do Socol. O evento, que celebra o socol, um embutido de maturação natural de origem italiana com mais de um século de história, será promovido nos dias 3 e 4 de maio.
Com uma programação com atrativos peculiares e que caracterizam e dão personalidade, o evento vai repetir a cantarola italiana, o leilão de iguarias e prendas inusitadas, assim como a bolsa de aposta em torno de uma linguiça gigante. “Têm atrativos que fazem parte da história da Festa da Socol e que só acontecem em nosso evento. Temos que mantê-los na programação, além de acrescentar novidades”, declarou Evandro Falqueto, presidente da Festa do Socol.
Uma das novidades foi colocar um samba na tarde de sábado, a charmosa “tardezinha”. O objetivo é fazer o horário ficar mais atraente e formar um público que prestigie o evento nesse momento da programação. O show é ao vivo, com entrada franca e ainda tem aula show e a vista única do Lago de Alto Bananeiras, um cenário que completa a experiência. “Este é um momento da Festa que as pessoas ainda estão descobrindo como uma oportunidade de lazer, de distração e de encontros”.
Evandro, que desde a primeira versão da Festa do Socol participa como voluntário, vê na ajuda das pessoas um capital importante do evento. “Eu tinha nove anos e fui ajudar na portaria, pois minha família já estava envolvida no evento mesmo antes de sua criação. E, como o voluntariado está na cultura do povo de Venda Nova, muitas pessoas que moram fora da comunidade estão vindo nos ajudar. É uma verdadeira força tarefa para fazer o evento fazer sucesso”. Atualmente, a Festa mobiliza mais de 150 voluntários e conta com o apoio do comércio em forma de patrocínio. Este apoio dobrou em relação ao ano passado e, como contrapartida, a Festa prestigia os fornecedores e os prestadores de serviços do município.
Com os lucros da Festa, a organização promove melhorias, como a construção da própria estrutura do evento, que é promovido no pátio da igreja Nossa Senhora Aparecida. “Voltamos parte desse resultado para as instituições: 10% vão para a Apae de Venda Nova, 10% para as Voluntárias e os 80% para melhorias na comunidade”.
Evandro se recorda que a Festa foi criada dentro de uma proposta da época, que era para cada comunidade criar um evento em torno de um produto ícone. E como em Alto Bananeiras várias famílias mantinham a tradição de produzir socol e outros embutidos, o socol foi o eleito. “O evento traz visibilidade para a comunidade onde várias propriedades estão inseridas no agroturismo, com produtos já muito famosos”.
Na raiz do evento estão os saudosos Danilo Falqueto e Vânio Falqueto (pai de Evandro) e Angelim e Elvécio Falqueto. Elvécio sempre recebia os amigos para degustar as iguarias que produzia e, uma vez no ano, fazia um socol gigante, numa verdadeira festa promovida em seu quintal. Foi naquele ambiente que a Festa do Socol foi criada.
Um produto com IG
Em 2018 o socol recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O selo é controlado por oito famílias locais e garante a autenticidade do produto, que atrai turistas de diversas partes do Brasil e do mundo.
A festa, que começou de forma simples, ganhou notoriedade graças à dedicação da comunidade de Alto Bananeiras. Em 2024, mais de 4.000 pessoas participaram da festa, que registrou um consumo de 300 kg de socol, além de atividades como o leilão do socol gigante.
“Nossas equipes de voluntários já começaram a se organizar e estamos construindo a programação, pensando atrair também mais público para o sábado durante o dia”, afirma Hiago Falqueto, um dos coordenadores do evento.
A Festa do Socol também é uma oportunidade para conhecer de perto a história da região e a produção do embutido que leva o nome derivado dos ossos do pescoço do porco. Além disso, é um momento de lazer e cultura em um dos pontos mais altos do município, cercado por paisagens rurais.
Pé de moleque
Outra novidade da Festa do Socol este ano vai ser a produção de açúcar mascavo ao vivo. Esse açúcar será a base no preparo de pé de moleque, um doce que também leva amendoim e que faz muito sucesso e será vendido durante o evento. A organização vai montar uma barraca especialmente para a equipe, que terá à frente Tarcísio Falqueto.
Bolsa de aposta de uma super linguiça e leilão do socol gigante como atrativos típicos
Dentro dos atrativos da Festa do Socol, a bolsa de apostas, uma brincadeira para adivinhar o tamanho de uma linguiça caseira gigante preparada pelos voluntários movimenta o evento. Os 'apostadores' pagam R$ 3,00 para dar um palpite e têm descontos progressivos à medida que querem dar outros, chegando a pagar R$ 10,00 por cinco pitacos.
Esse atrativo passou a fazer parte da programação em torno da quinta ou sexta Festa. “A gente sempre busca algo inovador, que não tenha em outro evento e, na intenção de oferecer ao público algo diferente e relacionado à nossa cultura, criamos essa bolsa de apostas. Continuamos assim até hoje, procurando algo diferente e que faça sentido culturalmente”, diz Hiago Falqueto, um dos organizadores do evento.
Um dos momentos que mais estimula o público é o da medição da peça da linguiça feita mais no final da tarde de domingo, em torno das 16 horas. Em uma mesa de pedra, o embutido, seguido com um fio de barbante em toda sua extensão, fica enrolado e, para ser medido, o barbante serve de referência e é medido diante dos olhos do público. “Achamos esta forma de medir, pois a linguiça se quebraria ao ser esticada”.
Hiago explica que a metragem do embutido varia de acordo com o comprimento da tripa do porco que serve de película para envolver a carne triturada e temperada. “O alho, a pimenta e o sal dão sabor e os ingredientes são fiéis à receita de nossos antepassados. Também como os antigos, passamos uma pimentinha na parte externa da peça, o que garante uma proteção contra insetos, pois a peça fica exposta”.
A produção da linguiça é sempre na quarta ou na quinta-feira que antecede o evento. “Não pode ser feita muito antes, devido ao risco de estragar, e nem muito perto, pois passa por um processo de desidratação e, por isso, pinga”, explana Hiago sobre a natureza da produção do alimento e sobre os prazos apertados em razão de tantas ações a serem cumpridas na reta final da organização do evento.
No ano passado a linguiça mediu 22,69 metros. Mas na história da Festa há registro de peças em torno de 15 metros, sendo que a maior ultrapassou os 30. Os voluntários envolvidos em sua produção não participam da bolsa de apostas e nem medem a peça ao final de sua produção. O balcão de apostas funciona durante toda a programação da Festa e só se encerra minutos antes da medição.
Leilão
Ainda pela manhã de domingo, no horário entre o final da missa e o começo do almoço, começa o leilão. Produtos agrícolas (peças de palmito, abóboras, batatas e outros), embutidos, doces e pudins são exibidos pelos leiloeiros, que andam entre o público, 'gritando' as propostas. O grande atrativo é o leilão de um socol gigante. Vence e leva as prendas quem paga mais.
Algumas pessoas devolvem as prendas para serem leiloadas novamente e outras as compartilham na própria Festa com os amigos e conhecidos. “Isso é muito comum quando são assados de carne ou sobremesas, como pé de moleque e pudins”, diz Hiago. Há alguns anos, era muito comum o leilão de animais vivos, como galinhas e porcos.