FAMÍLIA SOSSAI - A história de José Sossai e Ilha Falqueto
Uma história de amor que começou com um 'boa tarde' e conta com uma família de 129 pessoas
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No dia 25 de setembro de 1921, nascia em Venda Nova do Imigrante José Sossai, filho de Benjamim Sossai e Augusta Cesconetto, sendo o sexto de sete filhos. Benjamim, que nasceu na Itália, era o segundo filho de Pietro Noè Sossai e Elena Caliman
Deus viu que José era um homem trabalhador, honesto e de muita fé e pensou em dar-lhe uma alma gêmea. Então em 1931 (nove anos após seu nascimento), em uma fôrma muito especial, nascia Ilha Falchetto. Em 1946 quando Ilha ia a cavalo receber seu ordenado de professora em Castelo, na volta para Venda Nova, eles se encontraram no caminho. Cada um estava em seu cavalo, se cumprimentaram com uma “boa tarde” e, após dois anos de namoro, receberam o sacramento do matrimônio. O casamento foi no dia 26 de setembro de 1948, às 6 horas da manhã, em Venda Nova, dando início a sua família.
Nessa época a situação financeira era muito precária. Preocupados em dar um sustento melhor para sua família, em 1952 após o nascimento dos três primeiros filhos (Regina, José Guilherme e Maria de Lourdes), eles se mudaram para Jaguaré, Norte do Estado. Enfrentando muitas dificuldades, mas com trabalho e dedicação, foram estruturando sua família que crescia com o nascimento de mais oito filhos (Maria Gorete, Domingos Sávio, Maria do Carmo, Marizette, Deosdete, Dioclis, Silvana e Marlúcia).
Nessa época Jaguaré era tudo mata, não tinha comércio ou farmácia; só uma capelinha para nos domingos rezarem o terço. Em viagens de até três dias, vovô Zé ia até São Mateus a cavalo ou de bicicleta para comprar alimentos ou remédios. A união era grande e só havia nove famílias morando no lugar. Na roça as pessoas se ajudavam, principalmente em casos de doença.
Vovô Zé sustentava a família com o trabalho na roça e também através dos serviços que prestava com a máquina de beneficiamento de café, a única no município. Teve safra de pilar até oito meses sem parar. A mão de obra era dividida entre ele, a esposa e os filhos e contavam com apenas um funcionário. Nessa época também teve máquina de pilar arroz e moinho a martelo para fazer fubá, sendo que tudo funcionava com motor a diesel. E se trabalhava à noite, sob a iluminação de lamparina a querosene, pois não existia energia elétrica.
Antigamente, nas horas de folga, era costume embalsamar bichos que as pessoas traziam, como onça, veado, macaco, capivara e muitos pássaros. Fazia armação de ferro para deixar os animais de pé, como se estivessem vivos.
Vovô Zé foi membro da diretoria do Comitê Pró-Melhoramento de Jaguaré. Nesta ocasião, com os recursos recebidos, fizeram o ginásio (onde hoje é a prefeitura) e a estrada para o Giral. Como sua profissão era ferreiro, emendava corrente de ferro na areia, produzia foices e consertava ferramentas. Ele também teve o privilégio de confeccionar a cruz que existe até hoje na torre da Igreja Matriz São Cipriano.
Católico, muito religioso e participante ativo da comunidade, ele tinha o compromisso de frequentar as missas pela manhã todos os domingos e também participar da eucaristia, com isso nos deixa o ensinamento de que “domingo é dia de ir à igreja”.
Gostava de dirigir, andar de bicicleta e de jogar bocha, mantendo essa atividade por mais de 50 anos. Era amante da natureza. Morava em seu sítio rodeado de plantas, com árvores nativas e frutíferas. Ele adorava plantar árvores e, quando os netos chegavam em seu pomar para apanhar as deliciosas frutas (jabuticabas, mangas, goiabas, jambos, laranjas, jacas e outras), falava em tom de brincadeira: -Quem planta colhe. Você plantou alguma fruta aqui?”.
Essa era uma das formas de receber seus netos com carinho, pois demonstrava muita satisfação pela presença de cada um que ali visitava. Ele também ficava muito feliz em receber alunos das escolas, que sempre iam fazer passeios de pesquisas pela mata. Ele os acompanhavam contando as histórias das árvores.
Meu avô adorava fazer suas caminhadas mata adentro, acompanhado da sua amada Ilha. Assim eles faziam todas as manhãs e adoravam assistir o terço todos os dias à tarde transmitida pela televisão, colocando no braço do sofá um copo com água para ser benta e logo após a tomarem. Também ofereciam, caso tivessem visitas. Tive o privilégio de tomar água benta em alguns bons momentos vividos com eles.
Por muito tempo vô Zé produziu e guardou em segredo sua receita do tão famoso vinho de jabuticaba Família Sossai. Na época da colheita era uma loucura, não sabia se colhia as jabuticabas ou vigiava os netos que sempre arrumavam um jeito de subir nos pés para consumir as frutas. Mas ele nos pegava de surpresa e perguntava: “você plantou alguma coisa aqui?”. Ou dizia para que não subíssemos, explicando que onde pisávamos não nascia mais fruta”. Ele ainda nos desafiava dizendo que se a gente arrancasse uma fruta ele saberia, pois sabia quantas frutas tinha aquele pé. Quantas alegrias que a infância nos trouxe e quantas saudades de um tempo que não voltará, porém permanecerão para sempre em nossas memórias.
As reuniões em família, nas tardes de domingos, estavam entre os momentos importantes. Como sabíamos que vovô e vovó ficavam nos esperando, todos tiravam seu tempo para ali, em sua varanda, sentarmos para o famoso café da tarde compartilhado, com o delicioso bolo que só a vovó sabia fazer. Passávamos horas conversando, brincando, rindo e nos deliciando com a presença dos dois.
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Não podemos deixar de falar dos apertos de mãos que nos faziam sentar no chão de tão apertado. E ele sempre nos perguntava: “tá doendo?” Com a nossa afirmativa, ele respondia: “Mas eu nem estou apertando sua mão?”
Foi um privilégio aproveitar com alegria de tantos momentos: nas reuniões de famílias, nos casamentos, nas quadrilhas, nos aniversários, nos almoços e/ou café de domingos. Sempre com orações de agradecimento a Deus por tudo que somos e que temos.
Vovô Zé e vovó Ilha -nosso maior exemplo de família, de amor, companheirismo- permaneceram unidos durante 65 anos. Que exemplo nos deram sobre a importância de manter uma família, não importando as dificuldades e as barreiras encontradas, mas valorizando, acima de tudo, esse projeto de Deus. Sabemos o quanto sofreu calado com saudades da vovó durante seus 485 dias após sua partida para reencontrá-la novamente na eternidade.
Neste momento, gostaria de perguntar a ele como se sente? Sabendo que a sua resposta sempre será: “Se você tivesse a minha idade iria saber. Ontem eu estava melhor”.
Nós temos certeza que quem o conheceu e viveu com ele aprendeu muitos ensinamentos. E seus netos nunca se esquecerão dos seus dizeres, como: “língua comprida a tesoura corta”; “vô, você é feio! Sou feio, mas já casei!” e, a mais clássica, “é mais fácil tratar um cavalo a arroz do que você a bolo”.
É José Sossai e Ilha Falqueto, vocês dois nem imaginariam que daquele “boa tarde” estaria ali predestinado a criação dessa abençoada família. Essa família que não para de crescer, praticamente todos enraizados em Jaguaré, que até o início de 2025 totalizam 129 pessoas”.