FAMÍLIA SOSSAI - Os biscoitos de polvilho de Maria Breda e os encontros em torno da mesa
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As memórias afetivas produzidas por Maria Breda Falqueto, neta de Orsola Sossai, em seus netos e familiares que a visitam, giram em torno de um delicioso biscoito de polvilho. Chamado também de maluco, os modelos feitos por ela são grandes e de polvilho de araruta, uma cultura que até hoje ela mantém na propriedade.
Aos 92 anos ela fala da receita familiar e da época que o então namorado de sua irmã Jovelina, o Silvino, ia na casa de sua família fazer a visita de cortejo e voltava com meio saco de biscoito para a sua casa. Ele presenteava a família da namorada com carambolas. Quando crianças, elas já ajudavam no preparo do biscoito. “Toda hora faltava alguma coisa que a gente tinha que ir buscar. Todas tinham a sua vez de assumir a responsabilidade de ir arrancar a araruta no lugar mais alto, de onde via a banda de lá”.
Todas as irmãs se casaram na família Falqueto, sendo dois irmãos e os outros dois primos destes. Essa era uma época que as moças se vestiam com as roupas feitas com os tecidos vendidos pelos caixeiros viajantes. “Quando eles vinham, a família comprava mescla para fazer calça para os homens, algodão para os vestidos e camisas e carne seca para as capas dos colchões e dos travesseiros, que a gente enchia com palha de milho e fechava com um cordão. Também colocávamos marcelina, um tipo de capim de flor amarela, que dava na mesma época do capim melado. É medicinal, muito cheiroso, bom para cessar a dor de cabeça. Também reaproveitávamos as lonas usadas para fazer sacos de apanhar café. Era a lona Ouro Verde”.
Maria Breda Falqueto é filha de Ecler Filete com Ângelo Breda, que era filho de Anna Orsola Sossai (que nasceu na Itália) com José Breda. Maria mora no Pé da Serra de Lavrinhas, mas nasceu na Tapera, quando seus pais eram colonos de Jacó Filete (pai de sua mãe). Seus avós paternos, Anna Orsola e José Breda, foram para o Norte.
Dos tempos de escassez, Maria se lembra das ocasiões em que a mãe pegava as ferraduras velhas para colocar no meio do trigo para preservar a farinha, que tinha que durar o ano inteiro. Ainda menina, Maria se encantou com o charme do jovem Ristolino Falqueto, com 14 anos na época. “Eu só espiava e só namorei com ele quando eu tinha 17 anos. Num dia chuvoso de leilão ele usava uma capa gaúcha e eu percebi que outra moça estava interessada nele e então resolvi fazer uma novena pedindo a Deus se 'for para não ser ele, que eu tirasse ele da minha cabeça'”.
Ristolino usava a estrada próxima a casa de Maria que, aproveitava uma falha no plantio de café para ver ele passar. “Eu ficava vigiando para não perder a oportunidade. Eu morava na Tapera e ele vinha pelo lado dos Briosqui. Lembro que ele amansava mula e uma delas se chamada Ruana, que rodava até ele pular em cima. E ele fazia trajetos com ela antes de estar completamente amansada e eu ficava apreensiva, pois se acontecesse algo, as notícias demoravam um mês para chegar até a gente”.
Já namorando com Ristolino, Maria guardava as poucas latinhas bonitas que conseguia para colocar biscoitos e servir com cafezinho para ele. Eles se casaram quando ela tinha de 22 para 23 anos e o momento foi comemorado com um banquete e com o noivo usando sapatos, uma raridade na época. “Quando Rafael Zandonadi casou com Teresa Briosqui ele não tinha sapato adequado e passou carvão em uma tira de tecido para improvisar um cadarço, o que deixou o pé dele preto”.
Maria e Ristolino se casaram no dia 30 de julho de 1957 numa celebração feita pelo Frei João Echávarri. Na mesma cerimônia casaram-se Paulo Caliman com Leonor Betine. “Eram os padres agostinianos da Fazenda do Centro que cuidavam da região”. O vestido de Maria foi feito por Edite Briosqui com o tecido comprado na Casa Perim. “Eu agradeço ela até hoje, pois ela nunca negava”.
Biscoito de polvilho
No lar de Maria e Ristolino foram mantidos vários hábitos que ela levou da casa materna, entre eles, o de fazer biscoitos. E o primeiro dia do ano era especialmente dedicado à produção de diferentes variedades, principalmente a do biscoito maluco. Uma semana antes, ela e Idalete colhiam e guardavam os ovos. “Cada dúzia rendia umas três qualidades e fazíamos umas 14 receitas diferentes, sendo que o maluco era o preferido. Gastávamos cinco litros de polvilho e colocávamos os malucos num saco de adubo, que era lavado antes. Fechávamos em cima e os biscoitos ficavam sempre sequinhos”.
A ocasião da produção de biscoitos era a oportunidade de passar os conhecimentos para as filhas e, anos mais tarde, para as netas. Além de biscoito, fazia-se pudim, doce de mamão com leite e de mamão puro. O leite era uma raridade. “Era pouco pasto e por isso, poucas vacas. Todos os dias tinha que colher batatas, taioba, inhame e banana para alimentar os animais, incluindo os porcos. Para as vacas, dávamos mandioca crua e picadinha, o que ajudava a dar muito leite. Também sustentávamos elas com milho e com pastagem. O porco também comia milho e o animal era importante para produzir carne de lata (o lombo), linguiça e fornecer banha. Que gostoso que ficava”.
Maria e Ristolino tiveram dez filhos, sendo que nove chegaram à idade adulta. Como trabalhou muito desde criança, ela não teve oportunidade de frequentar escola. “Eu tinha tanta vontade de aprender a ler e eu prometi a mim mesma que se eu aprendesse, leria a Bíblia”. Aos 85 anos Maria foi alfabetizada sob a tutela e paciência de Ristolino, o amor de sua vida. “Ele me deu o lápis e um caderno e eu aprendi tudo. Ele ditava e eu escrevia”.
E assim, com carinho, Maria fala dos avós de seus pais, de seu saudoso marido e da família que construiu com ele. Ao ser questionada se ela o amava muito, ela repo